Fala sério!

Quem se preocupa muito com a ilegalidade do transporte urbano em Campos, está dando um tiro no próprio pé, por não enxergar que há outras formas irregulares de trabalho dentro da própria redação desse jornal. Como o excesso de estagiários, que tira a vaga de profissionais formados, além dos crimes de assédio moral, face as palavras agressivas com que os funcionários são obrigados a ouvir da boca de um membro da direção deste jornal.
O que o repórter e a direção desse jornal não viram é o que está por trás desse transporte considerado ilegal. A criatividade do chefe de família que está desempregado em se virar para trabalhar honestamente e com isso garantir o sustento de sua família. Além do que, o atual sistema de transportes coletivos de Campos está obsoleto, e os empresários que já se consideram “coronéis” para fazer tal reclamação à imprensa e ao governo não tiveram a capacidade de enxergar que os tempos já mudaram e Campos necessita de um sistema de transporte mais eficiente, onde os usuários sejam respeitados, que os idosos sejam bem tratados, e que os empresários coloquem veículos de boa qualidade para rodar e atender a população, e não essas “carroças de burro” velhas que quebram facilmente como tem sido visto nas ruas de Campos e em alguns distritos do município.
O município carece de investimentos nesse setor, mas cabe ao governo municipal dar um basta na forma como os empresários encaram o que eles ganharam por concessão, e não conseguem dar ao campista um serviço de qualidade que justifique a tarifa cobrada de R$ 1,60, que é cara tendo em vista a distância percorrida e a péssima qualidade dos veículos. Em sua maioria sucateados e comprados de outras empresas de cidades como Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Só mesmo quem já residiu fora da cidade e andou por Curitiba, Florianópolis, Cuiabá, Grande Vitória e Nova Friburgo sabe do que estou dizendo. Já que essas cidades copiaram o sistema de transporte criado em Curitiba, e cujo serviço vem agradando aos usuários. Enquanto a maioria das cidades utiliza o modelo inicial, a cidade de Curitiba já está utilizando uma nova fase. Onde os próprios pontos de ônibus passaram a ser terminais de integração, e para se ter uma idéia da qualidade do serviço, os pontos de ônibus na capital paranaense tem a forma de um tubo, onde os usuários ficam protegidos das intempéries naturais como a chuva e o frio.
Nessa mesma semana, quando um jornal noticiou que o prefeito em exercício Roberto Henriques estava planejando baixar o preço das passagens para R$ 1,00 (um real), perguntei a um motorista que me levava para a faculdade, sobre o que ele achava sobre a notícia. A resposta veio lacônica, vislumbrando dias tenebrosos e complicados e até mesmo o fim de um serviço que nasceu justamente num dos piores momentos de Campos, a queda de um dos vãos da ponte General Dutra. E o tal motorista só conseguiu esboçar um sorriso quando eu expliquei que o sistema de transportes de ônibus ainda estava muito distante da qualidade de serviços que ele deveria oferecer à comunidade. Dessa forma as vans e carros “clandestinos” que realizam esse tipo de serviço ainda teriam muitos dias de vida, já que os empresários são uns chorões e reclamam de barriga cheia, ao não perceber que o seu sistema está deficitário e o povo necessita de transporte rápido e com menos tempo de duração entre dois veículos da mesma empresa. Já que atualmente o espaço entre dois veículos tem sido de mais ou menos 10 a 15 minutos. O que acaba irritando o passageiro que precisa se deslocar para o trabalho ou outro local.
Num momento em que Campos necessita de mão de obra para atuar em várias frentes de trabalho, quem tem um carro encontrou essa maneira de ganhar a vida honestamente, e vejam quantas famílias são beneficiadas por esse serviço que só veio a acrescentar. Isso sem contar que enquanto um carro viaja com apenas quatro passageiros, um ônibus leva em média 50 pessoas, das quais pelo menos 30 são pagantes, os outros são estudantes e idosos. Mas e o que dizer dos empresários que obrigam os fiscais a retirar de circulação os veículos de duas portas para não atender aos idosos e estudantes, conforme determina a lei?
E como fica a legislação de imprensa, que determina que o número de estagiários em uma redação deve ser de 10% do número de profissionais registrados em carteira? E os sem carteira assinada como é que ficam? Ficam a ver navios?
Os assuntos são discutíveis, e na faculdade o que se discute qual é o papel da imprensa diante disso tudo. Quem é esse jornalista “que não enxerga o óbvio ululante”, como diria Nelson Rodrigues, diante dos fatos que se lhe apresentam?
É preciso que o estagiário e o jornalista tenham olhos voltados para além da terceira margem do rio, e possam compreender muito mais do que aquilo que ele está enxergando. Mas para que isso aconteça só há uma saída, que ele leia mais, que ele compreenda o que está lendo, e que esse livro seja “Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach.
Depois a gente conversa.
* O autor é Bacharel em Comunicação Social com especialização em Jornalismo, pela Faculdade de Filosofia de Campos.
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