“Não se constrói futuro, apagando a história”
Ao acompanhar a matéria televisiva entendi através do relato do carnavalesco que o referido carro alegórico representava a imagem de um choque, ou de algo que iria causar arrepios à todos aqueles que estivessem na avenida Sapucaí, ou que estivesse assistindo ao desfile através da televisão. O carro em suma fazia parte de um contexto, estava retratado no enredo da escola e a atitude da entidade, causou uma série de transtornos de um trabalho que já vinha sendo preparado há muitos meses.
Mas num desses relances da vida, o carnavalesco foi muito feliz ao modificar o carro, colocando personagens fantasiados de branco, com uma mordaça sobre a boca, como forma de protesto, e duas faixas onde se lia em primeiro plano “Libertas quae sera tamen” e no segundo plano “Não se constrói futuro, apagando a história”.
Curiosamente, os repórteres das organizações Globo, de jornal e televisão deram destaque a frase do primeiro plano e não perceberam que a derradeira resposta do carnavalesco estava sob a segunda frase.
De acordo com Z. S. Harris, “a análise do discurso dá uma multiplicidade de informação”, daí o fato de analisar esse momento do carnaval de 2008, por uma série de detalhes, que muitas vezes perpassam pelo jornalista e pelos leigos que assistem ao espetáculo sem terem a menor noção do fundamento do enredo da escola, achando tudo aquilo uma obra de arte de grande vulto.
Ao estudar a história do carnaval desde os primórdios do tempo, vi que a Igreja Católica, sempre manifestou-se contra essa festa popular cujo princípio era o de comemorar ou de oferecer ao deus Saturno oferendas para que a colheita fosse boa, daí o nome dessas festas terem sido chamadas de Saturnalia. Com o tempo a igreja foi modificando a festa no calendário gregoriano e foi empurrando a data para a frente, até chegar no período que antecede a quaresma da páscoa.
Mas além desse fato, a Igreja também ousou interferir em outras questões relativas a essa festa pagã, como a proibição da utilização de imagens sacras em desfiles carnavalescos. Como recentemente em um desfile da G. R. E. S. Beija-Flor, onde Joãozinho Trinta foi obrigado a encobrir uma imagem do Cristo Redentor com um plástico negro e uma faixa onde se lia: “mesmo proibido, rogai por nós”.
Entretanto, é curioso que os judeus e a entidade israelita só agora tenham tido a coragem de processar e proibir a criação e a veiculação de um carro alegórico com imagens trágicas de uma lembrança que muitos não desejam ver (eles), mas que a maioria da população desconhece, que é o holocausto, e os horrores praticados pelos nazistas.
Estranho é, que até mesmo em qualquer discurso só se define a imagem do holocausto como algo terrível, mas ninguém fala dos constantes massacres de palestinos na Faixa de Gaza, como um holocausto às avessas, quando milicianos judeus ortodoxos projetam-se contra seus vizinhos e irmãos de sangue, apenas como forma de destruir um ao outro, numa batalha sangrenta, cheia de dor, lágrimas e sangue como vem ocorrendo há muitos anos, desde que os Estados Unidos e a ONU, criaram o estado independente de Israel.
Curioso também é o fato de que a poucos meses antes do carnaval, a maior autoridade brasileira, do mundo judaico, o rabino Henri Sobel foi flagrado nos Estados Unidos roubando gravatas, e a entidade como um todo alegou publicamente que não havia sido ele, mas uma pessoa parecida.
O fato apesar de tão distante do carnaval mostra o que Guy Debord já definia ao analisar a mídia como a mídia dos tolos e o rebanho dos imbecis, porque “o discurso da mídia não tem compromisso com a verdade”.
Poucos hão de se lembrar quando em meados da década de 90, do século passado, esse mesmo rabino ao ser entrevistado face a um desfile de neo-nazistas ocorrido em Berlim ele teria dito que “as televisões do mundo inteiro não deveriam mostrar esse tipo de imagem porque isso é uma aberração do ser humano”. Naquela época, eu que sequer sonhava em cursar comunicação me vi indagando, sobre quem é o rabino Henri Sobel, para ditar uma regra ou uma norma para um ou mais canais de televisão?
Por isso quando ouço em sala de aula que Guy Debord, já havia dito que “cada obra de arte, reflete o seu tempo”, compreendo que a própria justiça e muito menos as escolas de samba, apresentem elas o que tema que desejarem, não deveriam ser alvo de processos civis, por causa de uma imagem ou um carro alegórico, porque o que está diante dos nossos olhos é apenas uma representação real de algo que já aconteceu, e do qual todos nós seres humanos e pensantes, deveríamos pensar e refletir sobre os erros do passado para construir um novo futuro, conforme entendimento de uma frase citada por Ruy Barbosa.
Concluindo, se estivesse na comissão julgadora dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, teria dado uma nota de louvor à feliz presença de espírito do carnavalesco que criou a frase do título desse artigo, já que realmente não podemos construir o futuro, apagando as referências do passado. E é estranho que muitos jovens de hoje em dia esqueçam de que para eles existirem houve um momento do passado em que eles foram concebidos, já que ninguém nasce pronto ou adulto.
Diria ainda que, citando o radialista Ricardo Silva, conhecido como o “Príncipe do Samba”, que numa entrevista para o projeto de conclusão de curso de jornalismo, no carnaval de 2007, declarou que “no carnaval, o brasileiro aprende a conhecer o Brasil que ele não conhece”.
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