
A notícia do grampo telefônico entre o prefeito afastado de Campos, Alexandre Mocaiber e um de seus secretários, Quintanilha publicada no Jornal O Diário desta última segunda-feira, 7 de abril de 2008, dando conta de que “o carnaval de Campos é uma porcaria” causou revolta e protestos de alguns carnavalescos e dirigentes de entidades carnavalescas campistas que há muito tempo vivem na ilusão de que o que eles fazem é da melhor qualidade.
Bem, não vou questionar e não me coloco nem de um lado muito menos de outro em relação à política dessa cidade, mas sinceramente de todos os grampos efetuados em declarações do prefeito afastado essa foi sem dúvida nenhuma a mais verdadeira de todas elas, principalmente pelo conteúdo e pela dimensão de uma festa que deveria encher os olhos do povo de Campos, mas que na verdade só agrada a uns pobres coitados que sem dinheiro para ir para o Farol de São Tomé, - porque a passagem custa R$ 5,00 (cinco reais) só a ida -, e não tendo nada mais que preste nas emissoras de televisão, aproveitam seus momentos de lazer para ir até a Avenida XV de Novembro, assistir a um carnaval pobre de conteúdo, alegorias, adereços, e samba no pé.
Nesses dois anos que passei pela avenida à trabalho – diga-se de passagem, vi que o carnaval campista está muito aquém de uma falsa realidade que os carnavalescos não conseguem enxergar, e também daquela que eles tanto apregoam, de que “o carnaval de Campos é o terceiro melhor do Brasil”.
Chega de tanta idiotice, e desse sentimento de grandeza diante de coisas tão absurdas e da falta de organização que existe no carnaval campista!
Para que um carnaval seja motivo de orgulho e atrativo para uma cidade ele necessita passar por diversas modificações, desde a entrega das verbas para as entidades que dirigem o carnaval, que no final das contas acabam levando seus 20% de comissão, como também o fato de que somente 24 horas antes das escolas entrarem na avenida, é que as verbas são liberadas pela prefeitura, para a elaboração de um planejamento mais sério, como a exigência de vida útil para as entidades carnavalescas e também para todas as agremiações que irão desfilar no carnaval.
É necessário que as entidades e agremiações – que são entidades de cunho cultural, diga-se de passagem, - não coloquem na avenida sambas em homenagens a homens e mulheres que ainda estão vivos, que não façam sambas de caráter político, mas sim de temas culturais, seja ele nacional ou municipal, e também temas ecológicos, ou de caráter satírico diante de tantas coisas que são noticiadas nos veículos de comunicação.
Faz-se necessário também que as agremiações tenham vida própria e busquem durante um ano recursos próprios para colocar seu carnaval na avenida, com a realização de shows, pagodes, bingos etc, que gerem recursos para a agremiação. Bem como outras atividades de responsabilidade social, como a criação de cursos populares para as suas comunidades.
Somente depois de tudo isso, é que as agremiações teriam o direito de solicitar da prefeitura uma ajuda substancial para a aquisição de produtos para as fantasias e alegorias. Isso sem falar que no Rio de Janeiro, quem deseja desfilar como Destaque, precisa comprar sua fantasia e elas custam muito caro, o que garantiria as agremiações a entrada de capital e dessa forma esse capital viria subsidiar alguns custos das agremiações.
Há dois anos atrás quando estive na avenida quase tive a felicidade de ver um desfile impecável, sem atrasos e sem violência. Mas infelizmente o público campista ainda está muito distante de ter educação e respeito com o próximo, para ir até a uma avenida desfilar ou assistir a um desfile face as gangues de adolescentes de cada uma das favelas da cidade que resolvem atrapalhar a vida de quem trabalhou durante muito tempo e chegou a perder horas de sono para colocar seu bloco na rua.
Além disso, os constantes atrasos das agremiações, a quebra de carros alegóricos, construção de carros maiores que a avenida, falta de um planejamento mais rigoroso e maleável (já que uma escola não pode entrar que entre a seguinte, antecipando o horário do seu desfile), ou que a comissão organizadora crie mecanismos para ocupar um espaço vago com outra atração para que o público nas arquibancadas não fique sem uma atração para assistir.
Depois de tudo isso posto em prática é hora do executivo colocar em prática mecanismos para dar ao público que irá assistir mais segurança, comodidade, atrações paralelas na avenida, até mesmo com entrega de prêmios, brindes e gincanas para atrair e dar ao público um motivo a mais de alegria, e que ele possa voltar para casa, com a tranqüilidade e a certeza de que no ano seguinte o carnaval será muito melhor.
Falta ao poder público, ter mais pulso no que diz respeito as escolas que não comparecem à avenida numa falta de respeito e compromisso com o dinheiro público que não pode ser utilizado, recebido e depois devolvido por essas agremiações que não possuem compromisso ético com o público de sua comunidade, e com a população de Campos.
Finalmente, falta aos carnavalescos organização compromissada com o bem-estar da população e com a divulgação dos seus trabalhos, como sambas-enredo de qualidade que deveriam estar sendo elaboradas agora, para então serem divulgados ao longo do ano pelas emissoras de rádio e televisão locais, para que no ano seguinte, o público que gosta de assistir ao carnaval tenha o samba na ponta da língua.
Sinceramente, o que o prefeito afastado disse é uma grande verdade, pena que os carnavalescos campistas ainda vivem na falsa ilusão de que o que eles fazem é bom. Bom mesmo é assistir ao carnaval sanjoanense com dois blocos, o Congo e o Chinês, que mostram um carnaval de altíssimo nível, com fantasias luxuosíssimas, e em dois dias, cada uma das agremiações abre o desfile, numa disputa igualitária, mas eivada de compromisso ético, moral e principalmente com o seu público cativo.
Em seguida, que os carnavalescos de Campos, percorram os mais de 5 mil municípios brasileiros para averiguar se realmente o carnaval campista é o terceiro melhor do país, porque sinceramente, do que jeito que está o IDH da cidade e a fama, eu a colocaria em último das cidades que tem carnaval. E ponto final.
* O autor é Bacharel em Comunicação Social, com especialização em Jornalismo, pela Faculdade de Filosofia de Campos, e carioca de nascimento.